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Artigo de Imprensa / May 26, 2019

Hovione desafia a academia com o Programa 9ºw

Pontos de Vista, 26 maio 2019

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Podemos começar por saber o que é o Programa 9ºW?
O Programa 9ºW é um desafio que a Hovione lançou em 2016 a instituições académicas portuguesas para resolvermos juntos problemas específicos que a empresa, por si só, não conseguia resolver. 9ºW é a longitude de Lisboa e o nome foi inspirado no Prémio Longitude atribuído no século XVIII pelo governo britânico a quem resolvesse um dos maiores desafios da época: como determinar a longitude de uma embarcação em alto mar?

O Programa 9ºW da Hovione concedeu cinco milhões de euros para três projetos académicos. Quais foram os projetos abrangidos? Porquê?
Antes de lançarmos o programa identificámos as maiores dificuldades que queríamos superar a curto e a médio prazo. Destas, selecionámos três que deram origem aos projetos do programa.
O primeiro consiste no desenvolvimento de um método de secagem que queremos que seja muito mais eficiente do que aqueles que usamos e dos que encontramos no mercado. Este é um passo importante na estratégica mais global que queremos implementar.
O segundo projeto visa a formação profissional de técnicos de laboratórios analíticos que não conseguimos encontrar no mercado de trabalho.
Por último, precisávamos de conhecimento para implementar a transformação digital nos nossos laboratórios tendo em conta a forte intensificação de trabalho que previmos venha a acontecer.
No primeiro projeto colaborámos com a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto; no segundo com um consórcio liderado pelo Instituto Superior de Engenharia de Lisboa; já o terceiro foi atribuído a um consórcio entre o Instituto Superior Técnico e a Universidade do Minho.
 
O Programa 9ºW tem a duração de três anos (2017-2020). 18 meses depois qual é o balanço?
Ainda é cedo para um balanço global pois estamos a meio do programa. De qualquer forma, a avaliação intermédia é positiva.
Temos um conceito novo para a secagem que, à escala laboratorial, demonstrou ter a eficácia desejada e estamos neste momento a escrever a patente e a elaborar um plano que nos permita ter uma unidade industrial em 2021.
Das seis edições de formação de analistas previstas concluímos as duas primeiras, formando 24 analistas químicos; destes 50% foram recrutados para a Hovione, o que contribui para uma taxa de empregabilidade destes formandos acima de 75%.
O projeto de transformação digital também está a progredir bem. Testámos com sucesso os modelos matemáticos de escalonamento de atividades, decidimos sobre as soluções de automação e estamos a criar a estrutura para bases de dados sobre as quais poderemos aplicar "machine learning".

A Hovione formou parceria com instituições de ensino para a criação de um curso de analistas químicos, sendo o consórcio de instituições liderado pelo ISEL. Que desafios obrigaram a Hovione a criar o Programa 9ºW, a promover o curso e a financiar a construção do PharmaLab no ISEL?
O desafio na criação do programa era criar analistas químicos com os conhecimentos necessários, suficientes e específicos da indústria farmacêutica. Em Portugal, onde a indústria farmacêutica é de reduzida dimensão, não conseguíamos recrutar técnicos em número suficiente para apoiar o nosso crescimento nesta área. Constatámos que competíamos pelos mesmos escassos recursos com a indústria local e que, muitas vezes, éramos forçados a contratar recursos subqualificados ou sobre-qualificados, o que exigia um esforço tremendo de formação interna ou gerava problemas de gestão de expectativas a médio prazo.
Precisávamos, portanto, de uma solução sustentável para as nossas necessidades e, juntamente com o ISEL, desenhámos um projeto para superar estas carências. Combinámos os conhecimentos técnicos, a capacidade do ISEL de captar candidatos com o perfil desejado e a necessidade de criar um espaço laboratorial no ISEL que fosse uma réplica fidedigna dos laboratórios de controlo analítico da indústria farmacêutica, equipado com as tecnologias mais relevantes e gerido pelos mesmos padrões de qualidade, exigência e ética que promovemos na Hovione. O PharmaLab foi construído com este conceito, num espaço e com recursos disponibilizados pelo ISEL. Foi um investimento grande e que queremos continuar a dinamizar pois quem passa pelo PharmaLab entra na Hovione já com capacidade de fazer bom trabalho.

Quais são as mais-valias da parceria entre a Hovione e o ISEL? E qual é, na sua ótica, o potencial e o contributo deste instituto para o ensino superior e para o país?
As mais-valias são a conjunção de um conhecimento profundo das práticas e dos conhecimentos da indústria farmacêutica com o método e as instalações de ensino de um instituto superior. Estes cursos profissionais desenhados à medida das necessidades específicas da indústria local têm elevados graus de empregabilidade, contribuindo, desde logo, para a evolução social e económica do país. O PharmaLab faz muito mais que dar competências, cria as condições para que os seus estudantes possam construir uma carreira. Trata-se de uma profissão na qual a perícia é valorizada e na qual o trabalho tem o efeito direto de melhorar a saúde dos pacientes.

Com o Programa 9ºW, lançado em Setembro de 2016, a Hovione propôs-se trabalhar em parceria com Instituições Académicas, ao longo de três anos, para desenvolver projetos inovadores, relevantes que respondam às atuais e futuras necessidades das empresas. Quais são as expectativas?
A expectativa principal é resolvermos os desafios a que nos propusemos em 2016. Para além disso, a interação próxima com as instituições académicas cria fortes relações que abrem outras oportunidades de colaboração e que nos permitem progredir no nosso processo de diferenciação através da inovação e do conhecimento.
As nossas universidades e instituições académicas são muito boas. Achamos que colaborar com estas em problemas complexos e de aplicação prática é muito motivante para os jovens. Temos cerca de 30 estudantes de doutoramento e mestrado a fazer a sua investigação na Hovione e a desenvolver conhecimento, o que, a prazo, vai resolver problemas concretos. Saber que o seu esforço e capacidade intelectual permitirão, a breve trecho, que um medicamento seja lançado e cure uma doença é algo de muitíssimo motivador.

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O Secretário de Estado do Ambiente deixou o alerta aos empresários na conferência “Going Sustainable: Oportunidades para Empresas Portuguesas nos EUA e na Europa”, promovida pela AmCham Portugal. "A sustentabilidade é, e continuará a ser, um fator de competitividade para as empresas”. A frase, de António Martins da Costa, é suportada por dados recentes do World Economic Forum (WEF) que apontam para a importância crescente que os gestores (47% dos inquiridos pela organização) atribuem à identificação e mitigação das mudanças climáticas, que encaram cada vez mais como um fator transformador para os seus negócios. Mas, o presidente da AmCham Portugal revelou ainda, durante a sessão de abertura da conferência “Going Sustainable: Oportunidades para Empresas Portuguesas nos EUA e na Europa”, que os temas ambientais e os riscos climáticos são atualmente referidos como o segundo maior risco global para as empresas, também de acordo com o WEF. Adicionalmente, salienta o responsável, na perspetiva dos 162 investidores inquiridos por um estudo da Universidade de Yale, e que representam um conjunto de ativos superior a seis mil milhões de euros, “sem informação atempada não será possível atingir as metas da sustentabilidade”. Neste contexto, António Martins da Costa, defende que “Portugal tem capacidade e potencial para ser um pilar da transformação, e transformar este potencial em realidade será um fator crítico de sucesso para o país”. Uma perspetiva partilhada por Emídio Sousa que acredita que Portugal conta, em matéria de sustentabilidade, com diversas vantagens competitivas face aos seus congéneres europeus. 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Aliás, a empresa lançou uma plataforma, que inclui organizações que fazem parte desta cadeia de valor, e que promove a circularidade do vidro, cujas metas passam por evitar o recurso à natureza para obter matéria-prima e tentar contribuir para elevar a taxa de reciclagem que, afirma, “está estagnada”. Em 2025 espera-se que esta taxa chegue aos 56% quando o objetivo inicial era de 70% para a mesma data. “Há ventos de mudança, mas desafios contínuos”, reforça. Do lado da banca que, nas palavras de Cristina Melo Antunes, “tem responsabilidades no financiamento da transição energética”, a inclusão dos riscos climáticos e de outros critérios ESG (sigla em inglês para Ambiente, Social e Governação) nas análises de risco de financiamento e crédito “deverá ser obrigatória”. No entanto, assume, “é também um grande desafio para as instituições financeiras”. Já Ricardo Morgado, na The Loop Co., cujo modelo de negócio assenta na circularidade – primeiro na venda de livros usados, depois de materiais usados para bebés e, mais recentemente, no segmento B2B no apoio a empresas que pretendam instalar modelos de economia circular internamente -, acredita que há vontade nas empresas para fazer crescer estes modelos de negócio. “Os consumidores estão disponíveis para modelos circulares, painéis solares, e em saber como os produtos são feitos, e não podem ser esquecidos porque são a principal força política nesta matéria”, alerta. Opinião partilhada por Cristina Melo Antunes que acrescenta ainda que “do lado das empresas, saber cooperar é muito importante para garantir uma maior transferência de conhecimento”.   Um desafio de responsabilidade Garantir que a sustentabilidade possa ser um motor para o crescimento económico é um desafio, mas também uma responsabilidade para as empresas. 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